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Neste agora,

a lua mingua

e já passamos da metade do verão.

Ainda no começo da pandemia, mudei de mar.

Do mediterrâneo ao atlântico,

desbravando novas formas de ser eu.

Um povoado de chão de terra.

Uma, duas casas.
Um, dois, cinco gatos.

Caminhadas longas observando os desenhos das marés –

o desenho do movimento,

o desenho impresso na areia.

Sempre por pouco tempo.

Às vezes, encontro restos de barcos,

madeiras rusticamente pintadas,

cordas de pesca.

Outras vezes, águas vivas.

Encontro os montes de folhas secas

que meu companheiro rastela no quintal.

Vejo a horta crescer, os filhotes crescerem.

Sinto o cheiro do breu branco no jardim,

a seiva escorrendo pelo tronco grosso,

e o som do mar atravessa tudo,

especialmente as madrugadas.

Percebo: é uma coleta.

Tenho coletado o que vejo, sinto, cheiro e percebo.

Talvez tentando dar forma a essa nova possibilidade de me ser.

Ser um corpo encostado ao atlântico.
Neste agora,

ouço um pica-pau.

E um inseto cai no meu chá.

Fotografo o que vejo,

e tudo é tão simples.

A benção é ver.

(5 de fevereiro de 2021)

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