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link para assistir ao II colóquio do diagrama grupo de pesquisa:

https://youtu.be/cJChpjSuzeY

É com Cecília Meireles que entramos neste encontro. Não somente com um pedaço do poema que o nomeia, mas com outro poema inteiro, sua Canção mínima:

No mistério do sem-fim / equilibra-se um planeta. / E, no planeta, um jardim, / e, no jardim, um canteiro; / no canteiro, uma violeta, / e, sobre ela, o dia inteiro, / entre o planeta e o sem-fim, / a asa de uma borboleta.
 

É do mínimo, do quase-nada, daquilo que está à beira da inexistência, que lançamos este canto. Canteiro de imagem, de escrita, canto que banha o desejo de seguir vivo dentro e depois da treva.

 

Queremos contar um pouco como chegamos aqui.

 

Era véspera do segundo turno das eleições do ano passado, quando estávamos cheios de angústia. Ou teríamos a mais bonita notícia, ou a inconsolável. Começamos a pensar juntos qual poderia ser o tema do nosso próximo ano de trabalho, e sentíamos o medo e o horror que contaminavam tudo. Lembramo-nos de Thiago de Mello, “faz escuro, mas eu canto”, verso que nomeou a bienal anterior. Havia algo ali que ressoava forte em nós, o canto, o canto, o cantar. Faz escuro, mas estamos vivos. Canto, encanto, canteiro, cantar. Decidimos esperar as eleições para escolher o caminho, imerso no aprofundamento das trevas, ou na nova alegria feroz. Veio a alegria. Chegamos então ao verso “eu canto porque o instante existe”, da Cecília Meireles, e ele era como uma abertura ao mundo, aos afetos, ao sensível, a um mínimo e imenso sopro de ar. Ficou assim decidido, e logo tiramos do verso o pronome ‘eu’. Ficamos com o canto, canto de cantar, canto de cantinho, canto de força viva e feroz.

 

Então, para convocar as outras vozes ao corpo deste encontro, canto uma canção falada, para traçar a nossa partilha de hoje:

 

cantar, lançar a voz ao mundo, o corpo, fazer corpo com o mundo, no mundo, perceber o tempo, o movimento de cada gesto, o contorno das coisas, do meu corpo em cada coisa, cantar, cantar porque existe, cantar a vida, a mínima trajetória de cada ser vivente, cantar e dançar junto à paisagem, junto à imagem, escrever como quem canta, como quem abre espaço em meio à parede de concreto, em meio ao asfalto, em meio ao horror, cantar e ter um corpo vivo, habitar o mundo como quem nele cultiva um canto, um canteiro, o pequeno, quase nada, ínfimo gesto, gestar o vivo, o que nasce, nascer sempre em instância, agora, no meio de tudo.

Texto: Carolina Junqueira

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